Através dos estudos de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky sobre a psicogênese da língua escrita, compreendeu-se um novo significado para o processo de aquisição do código escrito realizado pelas crianças. “A leitura e a escrita não dependem exclusivamente da habilidade que o alfabetizando apresenta de ‘somar pedaços de escrita’, e sim, antes disso, de compreender como funciona a estrutura da língua e a forma como é utilizada na sociedade”. O construtivismo coloca em evidência as hipóteses que as crianças formulam, testam, reorganizam, assimilam, acomodam e formam novas hipóteses até adquirirem a forma convencional da língua escrita. Segundo Ferreiro, do ato de ensinar, o processo desloca-se para o ato de aprender por meio da construção de um conhecimento que é realizado pelo educando, que passa a ser visto como um agente e não como um ser passivo que recebe e absorve o que lhe é "ensinado". Para Grossi (1990) quando alguém se alfabetiza, percorre uma longa trajetória à qual é dado o nome de psicogênese da alfabetização. Caracterizado pelos níveis[1] de concepção dos sujeitos que aprendem. O construtivismo está embasado nos estudos de Piaget sobre pensamento e linguagem. Segundo Piaget o conhecimento é construído através da interação do sujeito com o objeto. O princípio da interação, segundo Piaget, parte de uma concepção interacionista. Piaget privilegia a interação de um sujeito cognoscente com o mundo a ser conhecido. (ORTH, 2003, p.137). O desenvolvimento cognitivo se dá pela assimilação do objeto de conhecimento e pelas estruturas anteriores presentes no sujeito e pela acomodação dessas estruturas em função do novo conhecimento a ser assimilado. Segundo Piaget o conhecimento é constituído pelo sujeito mediante um processo de interação sujeito e meio. A interação, por sua vez, exige um processo de adaptação, que se expressa nos processos de assimilação e acomodação. A assimilação é a incorporação de um novo objeto ou idéia ao que já é conhecido; esquema que a criança já possui. A acomodação, por sua vez, implica na transformação que o organismo sofre para poder lidar com o ambiente. A acomodação e a assimilação são processos complementares. Segundo Piaget, o crescimento cognitivo da criança se dá por assimilação e acomodação. A assimilação designa o fato de que a iniciativa na interação do sujeito com o objeto é do organismo. O indivíduo constrói esquemas de assimilação mentais para abordar a realidade. Todo esquema de assimilação é construído e toda abordagem à realidade supõe um esquema de assimilação. Quando o organismo (mente) assimila, ele incorpora a realidade a seus esquemas de ação, impondo-se ao meio, (PIAGET in apud MOREIRA, 1999, p. 100). Assim sendo, diante de uma nova situação, a criança modifica seus esquemas, adaptando-se a novas situações. A ação de aprender fundamentada na teoria construtivista, acontece na complementação destes dois processos, os quais deverão estar em interação constante. Segundo o MEC (2006:36): A perspectiva construtivista na educação é configurada por uma série de princípios explicativos do desenvolvimento e da aprendizagem humana que se complementam, integrando um conjunto orientado a analisar, compreender e explicar os processos escolares de ensino e aprendizagem. A configuração do marco explicativo construtivista para os processos de educação escolar deu-se, entre outras influências, a partir da psicologia genética, da teoria sociointeracionista e das explicações da atividade significativa. Vários autores partiram dessas idéias para desenvolver e conceitualizar as várias dimensões envolvidas na educação escolar, trazendo inegáveis contribuições à teoria e à prática educativa. O núcleo central da integração de todas essas contribuições refere-se ao reconhecimento da importância da atividade mental construtiva nos processos de aquisição de conhecimento. Daí o termo construtivismo, denominando essa convergência. Assim, o conhecimento não é visto como algo situado fora do indivíduo, a ser adquirido por meio de cópia do real, tampouco como algo que o indivíduo constrói independentemente da realidade exterior, dos demais indivíduos e de suas próprias capacidades pessoais. É, antes de mais nada, uma construção histórica e social, na qual interferem fatores de ordem cultural e psicológica. A atividade construtiva, física ou mental, permite interpretar a realidade e construir significados, ao mesmo tempo que permite construir novas possibilidades de ação e de conhecimento. Nesse processo de interação com o objeto a ser conhecido, o sujeito constrói representações, que funcionam como verdadeiras explicações e se orientam por uma lógica interna. E, Entender a alfabetização na perspectiva construtivista necessita compreender os níveis pelos quais acontece este processo. Níveis da Psicogênese da língua escrita As investigações e pesquisas contemporâneas permitiram aos educadores compreenderem as hipóteses que os alunos têm a respeito da língua escrita. As abordagens cognitivas, sobretudo no quadro da Psicologia Genética de Piaget nos proporcionaram isso. O s estudos psicolingüísticos contribuíram para o entendimento deste processo. Segundo Soares (2006:19): Os estudos psicolingüísticos a respeito da leitura e da escrita voltam-se para a análise de problemas, tais como a caracterização da maturidade lingüística da acriança para a aprendizagem da leitura e da escrita, as relações entre linguagem e escrita, a interação entre a formação visual e não visual no processo da leitura, a determinação da quantidade de informação que é apreendida pelo sistema visual, quando a criança lê. O professor precisa conhecer as concepções que a criança desenvolve a respeito da língua escrita quando está construindo suas hipóteses para que possa tornar-se um mediador deste processo. De posse deste conhecimento poderá propor jogos, atividades e questionamentos que levem o aluno a “desestruturar seu pensamento”, isto é, duvidar de suas hipóteses, colocar em conflito suas certezas, comparar, estabelecer relações, refletir e desta forma, construir a hipótese lingüística. Através do conflito, da assimilação e acomodação, o aluno vai construindo sua trajetória até a compreensão do funcionamento do código. Mediar este processo é tarefa essencial do professor para que ele possa perceber quando deve intervir e propor novos desafios. Desta forma, através deste processo, a alfabetização vai se constituindo e a criança vai construindo o conhecimento da base alfabética da escrita. A alfabetização, como processo passa então a ser vista também com uma nova visão: como código de comunicação que promove à socialização e o acesso à cultura. Segundo a Wikipédia: A alfabetização consiste no aprendizado do alfabeto e de sua utilização como código de comunicação. De um modo mais abrangente, a alfabetização é definida como um processo no qual o indivíduo constrói a gramática e suas variações. Esse processo não se resume apenas na aquisição dessas habilidades mecânicas (codificação e decodificação) do acto de ler, mas na capacidade de interpretar, compreender, criticar, resignificar e produzir conhecimento. A alfabetização envolve também o desenvolvimento de novas formas de compreensão e uso da linguagem de uma maneira geral. A alfabetização de um indivíduo promove sua socialização, já que possibilita o estabelecimento de novos tipos de trocas simbólicas com outros indivíduos, acesso a bens culturais e a facilidades oferecidas pelas instituições sociais. A alfabetização é um fator propulsor do exercício consciente da cidadania e do desenvolvimento da sociedade como um todo (.wikipedia.org/wiki/Alfabetização). A socialização se dá na sala de aula através das atividades realizadas nos grupos, na interação com os colegas, na realização das brincadeiras, no pátio, no recreio, nas brincadeiras com jogos e em todos os espaços do seu cotidiano . Na verdade, é através de jogos que a criança constrói grande parte de seu conhecimento. O jogo está presente na sua vida, antes mesmo de freqüentar a escola. Por meio do jogo, do fazer, do brincar, do representar, a criança experimenta ir além, ultrapassa seus próprios limites e adquire autonomia. Conforme Vigotsky, o desenvolvimento cognitivo não ocorre independente do contexto social, histórico e cultural, desta forma não podendo ser entendido sem referência ao meio social. Muitos estudos comprovam a importância dos jogos no desenvolvimento das crianças. Trabalhar com jogos na alfabetização é uma forma prazerosa de propor desafios, de estimular as crianças a construírem novas hipóteses e avançarem nos níveis. O jogo representa uma situação problema a ser resolvida pela criança. Atualmente, percebemos que além dos jogos convencionais, propostos pelo professor as escolas contam com uma poderosa ferramenta capaz de auxiliar os professores na alfabetização: o computador. Existem muitos sites e softwares que podem ser usados para alfabetização, que além de tornarem a aula mais dinâmica, aperfeiçoam o processo de construção do conhecimento realizado pelo aluno. Conhecer os níveis conceituais lingüísticos na alfabetização ajuda o professor a incorporar novas estratégias de ensino em suas aulas. Os níveis conceituais lingüísticos classificam-se em: · Nível 1: pré-silábico · Nível 2: intermediário I · Nível 3: silábico · Nível 4: intermediário II ou silábico-alfabético · Nível 5: alfabético Nível Pré-Silábico A criança quando se encontra neste nível apresenta em seu processo algumas fases bem definidas: a fase pictórica, fase gráfica primitiva e fase pré-silábica. Na fase pictórica percebemos o registro de garatujas, desenhos sem figuração e, mais adiante, desenhos com figuração. Percebemos que a idade varia de acordo com o estímulo, recursos e material gráfico que a criança dispõe (estimulação lingüística). Todavia, algumas crianças somente terão o primeiro contato com materiais escritos na escola. Mais adiante a criança passa para a fase gráfica primitiva. Esta fase surge logo após quando a criança já consegue fazer o registro de símbolos e pseudoletras, misturadas com letras e números. Apresenta uma linearidade e utiliza-se do seu conhecimento do meio ambiente para escrever, podendo ser bolinhas, riscos, ensaios de letras. Nesta etapa surge uma reflexão sobre os sinais escritos. É bastante questionadora sobre a representação que o cerca. Na fase pré-silábica, propriamente dita, acontece à diferenciação de letras e números, desenhos e símbolos e o reconhecimento do papel das letras na escrita. A criança percebe que as letras servem para escrever, embora ainda não saiba como isso ocorre. Segundo Grossi (1990) o nível pré-silábico é caracterizado pela ausência de análises silábicas. No nível pré-silábico a criança apresenta as seguintes concepções: falta de consciência da correspondência entre pensamento e palavra escrita, falta de correspondência entre fonema e grafema; não possui o entendimento acerca do valor sonoro convencional (relação som-letra); não dá importância a ordem das letras; a criança só escreve substantivos, isto é, não incorpora a escrita o uso de artigos e verbos, pois não percebe sua necessidade; utiliza-se de muitas letras para diferentes palavras e imagina que as letras ou sílabas não podem se repetir na mesma palavra. Nível 2- intermediário Após ser questionada e problematizada pelo professor a criança entra em conflito. É o conflito que caracteriza o nível intermediário entre o pré-silábico e o silábico. O professor, como mediador, faz com que a criança repense suas certezas. O aluno, por sua vez, ainda não entende a organização do sistema lingüístico. O professor, então, passa a exercer papel fundamental para que a criança dê continuidade no seu entendimento. No nível intermediário a criança apresenta as seguintes concepções: dúvidas entre a pronúncia e a escrita; a criança já conhece e usa alguns valores sonoros convencionais, além de alguns trechos da palavra, é capaz de justificar a letra inicial e final das palavras. Nível 3- SilábicoNeste nível a criança desenvolve certa confiança porque já consegue escrever estabelecendo certa lógica. Segundo Grossi (1990) a compreensão da estabilidade da escrita das palavras é o pré-requisito para o nível silábico. Na concepção silábica a criança conta os’ pedaços sonoros’ (sílabas) e coloca um símbolo (letra) para cada sílaba, podendo ou não apresentar valor sonoro convencional. Nesta fase, a leitura das palavras, frases e textos continuam com dificuldades, pois o professor não consegue ler o que a criança escreveu. O nível silábico apresenta as seguintes características: após escrever uma palavra, acrescenta mais letras; apresenta a possibilidade de convivência com a hipótese de quantidade mínima de letra por um bom tempo; utilização de uma letra para cada palavra ao escrever uma frase; falta de definição das categorias lingüísticas (artigo, substantivo, verbo); maior precisão na correspondência som/letra, o que não ocorre sempre; uso de recorte silábico nas frases. Percebemos nesta hipótese que a criança distingue a sonorização ou fonetização da escrita, que não é existente em fases anteriores. Adquirir o valor sonoro é perceber a correspondência entre grafema e fonema. Isto é, apropriar-se do conhecimento de que existe relação entre o som e a letra. Nível 4- intermediário II ou silábico-alfabéticoÉ um nível marcado novamente pelo conflito estabelecido pela criança, pois precisa negar a lógica do nível silábico. É o conflito que é gerado pela incapacidade de compreensão daquilo que a criança escreveu. Neste momento a criança sente-se sem saída. O papel do professor é primordial para que ela consiga perceber sua escrita e compará-la com a convencional, a fim de que possa perceber o valor sonoro das sílabas. Nesta fase a criança está a um passo da escrita alfabética. Ela precisa ser estimulada a refletir sobre o sistema lingüístico a partir da observação da escrita alfabética e da reconstrução do código. Nível 5- alfabéticoNesta etapa ocorre uma estruturação dos vários elementos que compõem o sistema de escrita. Segundo Grossi é a fase de conhecimento do valor sonoro convencional de todas ou de algumas letras, bem como a de saber juntá-las para que constituam as sílabas. As crianças já distinguem basicamente algumas unidades lingüísticas, tais como letras, sílabas e frases. Apresenta as seguintes características: compreensão da logicidade da base alfabética escrita; conhecimento do valor sonoro convencional de todos ou de parte das letras, juntando-as para que formem sílabas e palavras, distinção de letra, palavra frase; pode ou não dividir a frase convencionalmente, e sim de acordo com o ritmo frasal, escrita fonética, mas não ortográfica. De posse do conhecimento teórico acerca de como os alunos aprendem e constroem seus conhecimentos é necessário nos perguntarmos por que tantas crianças reprovam nas classes de alfabetização? De que forma poderemos, enquanto educadores, contribuir para que de fato, nossos alunos consigam avançar em suas hipóteses e chegar ao final do ano letivo dominando o código escrito ? Que propostas de construção deste conhecimento poderemos trazer para a escola a fim de auxiliá-los? Todos estes questionamentos estão presentes em nossas práticas, visto que percebemos que existem altos índices de reprovação, principalmente nos alunos de 2º anos da escola ao qual fazemos parte. | ||
terça-feira, 28 de setembro de 2010
construtivismo
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