segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Inclusão: um projeto possível?

Já há algum tempo, vem se desenvolvendo no cenário educacional e social do país um movimento conhecido como "inclusão da pessoa portadora de necessidades especiais". Apesar de a inclusão não dizer respeito somente à escola, é nesse ambiente que o movimento tem ganhado mais força e gerado maior polêmica. Muitas perguntas a respeito desse tema rondam a cabeça de pais e educadores, e esse artigo pretende discutir algumas delas. Vamos às dúvidas mais freqüentes:

— O que é inclusão?
No âmbito escolar, a inclusão refere-se ao processo de educar-ensinar, no mesmo grupo, crianças com e sem necessidades educativas especiais, durante parte ou na totalidade do tempo de permanência na escola. Nessa concepção, toda escola deveria estar preparada, tanto em termos físicos (mobiliário, espaço físico, etc.) quanto em termos pedagógicos para receber e atender todo tipo de aluno, respeitando suas diferenças e educando de acordo com o ritmo e as possibilidades de cada um. É a garantia do princípio democrático de escola para todos. A inclusão refere-se também à participação das pessoas com necessidades especiais na sua comunidade: trabalho, lazer, vida social, etc. A inclusão, portanto, é um movimento que se opõe à segregação com que eram tratadas (e, de certa forma, ainda são) as pessoas portadoras de algum tipo de deficiência ou desvantagem física ou mental.

— Todos os alunos com necessidades educativas especiais podem freqüentar o ensino regular?
A legislação diz que todo aluno com necessidades especiais deve ser preferencialmente atendido pela rede regular de ensino. Isso significa que uma pessoa com necessidades especiais deve passar por uma avaliação que vai determinar se ela tem condições de ingressar no ensino regular ou se necessita de um atendimento especializado, que as escolas em geral não têm condições de oferecer. Seria o caso, por exemplo, de pessoas com deficiência mental que necessitam de apoio permanente até mesmo para atender a suas necessidades mais básicas, como comer. Neste caso, o aluno necessita de uma estrutura física e profissional diferenciada.

— As outras crianças podem ser prejudicadas pela presença de alunos com necessidades especiais?
Ao contrário. A convivência com a diversidade só pode trazer benefícios tanto para as crianças ditas "normais" como para aquelas com necessidades especiais. Vivemos em uma cultura que costuma subestimar a capacidade dos portadores de deficiências porque crescemos acostumados com a segregação das pessoas que apresentam algum tipo de diferença em relação às demais, como se sua convivência na comunidade fosse impossível. Só o convívio com a diversidade pode formar cidadãos tolerantes, solidários e preocupados com o bem-estar das pessoas. Além disso, há muitos estudos que apontam que os ganhos educacionais das crianças com necessidades especiais na escola regular, quando atendidas adequadamente, são maiores do que os daquelas que freqüentam apenas escolas especiais. Há também um ganho afetivo muito grande: as amizades, a participação e a aceitação favorecem a auto-estima e o autoconceito dessas crianças.

— Como a escola deve se preparar para receber alunos com necessidades especiais?
O preparo mais importante deve ser o dos educadores. Em termos pedagógicos, o educador deve estar preparado para fazer adaptações curriculares a fim de atender as diferenças de ritmo e de maneiras de aprender dos seus alunos (com ou sem necessidades especiais). Além disso, o educador deve estar preparado para aceitar as diferenças. Quanto mais aberto para a questão estiver o professor, melhor e mais afetiva será a convivência entre seus alunos.

A inclusão é um direito das pessoas portadoras de necessidades especiais. É, também, um dever da sociedade mostrar-se competente para educar e propiciar condições de sobrevivência dignas para essas pessoas. Talvez a escola deva ser a primeira instituição a dar o exemplo.

Por Eliza Helena Ercolin

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